conhecer e se reconhecer em lésbicas é um combustível poderoso para nossas vidas.

LUA
4 min readFeb 18, 2024

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11.04.23

(meu oito de março ao lado de grandes mulheres_sapatonas)

trago aqui uma reflexão da minha experiência que estou pra traduzir em palavras faz um mês, quero falar da magnitude que tem o encontrar e estar presente com lésbicas feministas y furiosas, a troca de experiências e afetos são sensações inimagináveis para quem está de fora

design da labrys por raposarte. presente no folheto da articulação lésbica no #8M de 2023

no #8M desse ano eu tive a oportunidade de participar da articulação lésbica em são paulo. e assim, um mês antes eu tinha medo de pensar em pisar nessa metrópole, mas estava lá com minhas queridas e gigantes entendidas

nunca estive no meio de tanta sapatão radical. conheci pessoalmente mulheres incríveis e contagiantes. lésbicas que admiro há muitos anos eu vi bem de pertinho e abracei com muita vergonha e desejo.
lá de tarde se realizava a organização dos materiais e do grupo, eu pude ver como elas conversavam e manejavam as palavras, como usavam o corpo e se movimentavam, como tinham cuidado e carinho umas com as outras da forma mais leve e fluida que uma interação social poderia ter. eu tive uma estalo mental e me toquei no mesmo momento: eu também estou aqui e faço parte, eu também consigo ser grande.

ali encontrei a resposta de algo que nunca foi uma questão, mas sempre uma negação na minha cabeça: achei que nunca conseguiria fazer…coisas*, porque tudo parecia muito distante, porque ainda parece que todo mundo está sempre em outro patamar e à frente, lendo coisas que eu não consigo e sabendo de coisas que ainda não sei. mas não é justo eu negar a tentativa e a experiência de desenvolver a minha parte na história vivendo aqui um corpo lesbiano, é mais que necessário que todas nós resgatemos nossa potência umas nas outras, e quem sabe dedicar esforços à todas as que vieram antes de nós e que mesmo com medo produziram conteúdos sobre suas vidas e viveram como lésbicas visíveis e mulher-identificada em todos os cantos do mundo.

com elas caminhando ao meu lado eu entendi que posso (tudo) também, posso porque sou uma delas, sou como elas e também posso articular e construir o que eu quiser, consigo fazer por e para lésbicas sempre.

tenho vinte anos, sou uma lésbica entendida na pandemia e do interior de são paulo, por aqui mal tenho parceiras e percebi o quanto faz falta na rotina aquele nosso cariño na presença que é um cariño só nosso (combustível de vida poderoso)
foi minha primeira presença em um ato organizado pelas franchas e posso dizer com todo meu corpo que sou muito grata por tudo que se sucedeu desse dia, toda presença, palavra trocada, sorrisos e observações eu levo comigo.

com toda essa carga de energia maravilhada tenho a responsabilidade de pontuar que mulheres lésbicas feministas não somos perfeitas ou irretocáveis, temos problemas e muitas dificuldades, rivalizamos e somos hostis com nós mesmas porque fomos socializadas tal como mulheres e todos os dias procuramos fazer nosso melhor por nós mesmas e pelas outras. entender e conviver com isso em mente nos tira de uma posição divina e nos humaniza, fica prático nos reconhecermos umas nas outras. são em leituras, escritas, diálogos e rodas de conversas onde desenvolvemos e discutimos tudo; trabalho de base. eu entendi há um bom tempo que estou perdida e me tranquiliza saber que estamos todas meio perdidas mesmo, porque somos pessoas reais nesse mundo.

*eu tenho medo de escrever, tenho medo de escolher, tenho medo de não me identificar, tenho medo de estudar e prestar vestibular, tenho medo de falar em público, tenho medo de falar numa vídeo-chamada, tenho medo de me articular politicamente, tenho medo de sentar e conversar, tenho medo de soar estranha, tenho medo de estar entendendo as coisas de forma diferente na minha cabeça e tenho medo de tudo que precise de uma ação/um passo à frente. e o problema do medo é que ele paralisa: e no fim nem é tudo isso e todas as experiências que tive desde aquelas em que eu conto até cinco e falo o que eu quero ou ando até o lugar que preciso me mostram que nunca são coisas tão impossíveis assim, na verdade são extremamente simples e no mínimo, possíveis. nada é tão grande que eu não possa tentar, porque eu sei que eu tenho muito potencial aqui dentro do meu corpo e da cabeça. eu consigo começar e terminar algo, eu consigo fazer coisas.
apreço especial e cheio de chamas pela brisa e natacha, por tudo e tudo que fazem falam lutam e vivem. mães lésbicas no front que não negociam os direitos da mulheres e crianças. outras potências furiosas e amoras pessoais que quero mencionar são bea e anne por terem me acolhido com tanto cuidado e entusiasmo.

quero muito estar perto de todas de novo, foi muito gostoso nossas interações, fico revivendo na memória.

lesbianas me inspiram y seguem inspirando umas as outras. em amor por nós sempre.

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